Cantos populares do Archipelago açoriano, Volume 4

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Typ. da Livraria nacional, 1869 - 478 pages
 

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Popular passages

Page 287 - Que tem muito que contar! Ouvide, agora, senhores, Uma história de pasmar. Passava mais de ano e dia Que iam na volta do mar, Já não tinham que comer Já não tinham que manjar; Deitaram sola de molho Para o outro dia jantar; Mas a sola era tão rija, Que a não puderam tragar.
Page 304 - Sua alteza, a quem Deos guarde, Aviso mandou ao mar, Que se aparelhasse o Conde Para uma manhã largar. O Conde se aparelhou De uma maneira tão bella ! Pela meia noite em ponto Atirou peça de leva.
Page 315 - Que eu vejo vir cavalleiros, Sinto-lhe tocar as armas. Lá vejo vir uma armada N'ella vejo vir um homem Que se parece meu pae. — «Eu não temo cavalleiros, Nem armas que elles tragam; Não temo senão Gabello, Filho da minha egua baia, Que o perdi em pequenino Andando n'uma batalha.
Page 312 - A sangreira era tanta Que pl'os embornaes corria. Era tanta a gente morta Os navios empeçariam. De setecentos e oitenta Só uma galera havia ; Com os seus mastros quebrados, O seu garupés rendido; Com a bandeira de rastos P'ra desprezo da Turquia. Chegando á sua terra Ancoram em francaria; O seu rei que o ouvira Pergunta que succedia. «Foi o Dom João da Armada Que a todos meteu a pique.
Page 375 - Que a falar verdade sou vosso irmão. •< Irmão da minha alma, do meu coração, D'aqui d'onde estou vos peço perdão; Se sois meu irmão, não de geração; Vós sois o amor do meu coração. — Cala-te pastora, não digas mais nada, Que a aposta que fiz tenho-a ganhada; A aposta que fiz tenho-a ganhada, Metade d'um navio com a sua carga. Vinde para baixo, dae cá vossa mão, Vinde acceitar prendas de vosso irmão.
Page 453 - Con él, porque muero voy, porque no muera, que si es marinero, seré marinera. Es tirana ley del niño señor, que por un amor se deseche un rey. Pues desta manera quiere, irme quiero por un marinero a ser marinera.
Page 245 - Despe o vestido de seda, E veste habito saial, Dize que és um clerigo Que a queres confessar. Quando elle lá chegou Já estavam p'ra matar. Já o theatro está feito Para ir a degolar. — Tate, tate, bons algozes, Que eu quero ai chegar; Que ella é menina e moça, Terá de que se accusar. Primeiro lhe perguntou: — Vós a quem deveis amar?
Page 236 - Dom Alberto foi á caça Lá á terra dos Leões, Lá lhe apodreçam os ossos, Mais tambem os seus falcões. Estando n'estas rasões, Dom Alberto a chegar : — Que tendes, Dona Maria Que estaes tam descorada? Alguma traição se armou, Ou está p'ra ser armada ! «Não é nada, senhor Alberto, Traição nenhuma é armada; Fui eu que perdi as chaves As chaves do cadeiado. — Calae-vos, minha senhora, Calae-vos Dona Maria, Que se ellas são de prata Eu d'ouro vol-as daria. Que cavallo é aquelle...
Page 331 - Chamem-me triste viuva Apartada da alegria ! • Que me morreu um cravo A quem eu tanto queria. Elle não morreu na guerra, Nem em batalha vencida; Morreu, morreu cá em terra N'um poço de agua fria.
Page 428 - Aos vinte e sete d'este mesmo mez, que foi dia de Sam Cosme e Sam Damião, começamos a lançar ao mar algumas pessoas que tinham morrido de fraqueza, e com pura fome e trabalhos: e foi tanta a necessidade da fome que padeciamos, que alguns dos nossos companheiros se foram a Jorge de Albuquerque, e lhe disseram: Que bem via os que morriam e acabavam de pura fome, e os que estavam vivos não tinham cousa de que se sustentar; e que pois assim era, lhes desse licença para comerem os que morriam, pois...

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